O comportamento dos custos de produção de bovinos confinados nos Estados de São Paulo e Goiás nos últimos três anos

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin

O Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos, que foi estimado em 215 milhões de animais, os quais ocuparam 170 milhões de hectares, segundo os dados FAO (2019). Desse total, foram abatidos em 2018 em torno de 44,23 milhões de bovinos, dos quais 5,58 milhões foram provenientes de confinamentos (ABIEC, 2019). O confinamento no Brasil ainda é uma realidade modesta, mas que exige dos confinadores técnicas avançadas, além da adequada gestão de custos e receitas.

A determinação da receita total da atividade é a multiplicação da quantidade produzida pelo preço de venda da produção. O custo total representa quanto a empresa gasta com a utilização de todos os fatores de produção. Entretanto, os cálculos dos custos de produção são mais complexos do que a receita e, em geral, se tem dificuldades em mensurar os custos de forma completa e adequada.

Apesar de desafiador, o cálculo de custo da produção pecuária permite ao produtor gerenciar a tomada de decisão na sua atividade para maximizar os lucros. O acompanhamento desses custos e dos preços dos insumos, que compõem a atividade, permitem aos gestores conhecerem melhor os negócios que conduzem.

Assim, o objetivo de um projeto de pesquisa e extensão desenvolvido no Laboratório de Análise Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP) tem sido o de analisar os custos de produção e o Índice Custo de Produção de Bovinos Confinados (ICBC). A análise aqui apresentada considerou os resultados deste projeto desenvolvido desde abril de 2017 até dezembro de 2019. Além da análise de custos e seu índice de evolução, este último foi comparado com o Índice Geral de Preços de Distribuição Interna (IGP-DI)[1] naquele mesmo período.

O LAE realiza o acompanhamento mensal de todos os preços dos insumos de produção utilizados nos confinamentos dos Estados de São Paulo e Goiás. Esses preços são atualizados em modelo de cálculo de custos de produção para bovinos de corte em confinamento desenvolvido por Sartorello et al. (2018) – essa planilha está disponível para download no site do LAE ou no banco de teses da USP.

Ao longo do monitoramento dos custos de produção foi observado que o Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados (ICBC) acumulou maior aumento do que a inflação divulgada pelo Índice Geral de Preços de Disponibilidade Interna (IGP-DI), conforme pode-se observar no Gráfico 1, abaixo.

O Gráfico 1 demonstrou que entre abril de 2017 a dezembro de 2019 enquanto a inflação acumulada pelo IGP-DI foi de 15,1%, no ICBC foi de 22%, 21,7% e 38,3% para CSPm, CSPg e CGO, respectivamente. Ou seja, houve aumento real de 6,9%, 6,6% e 23,2%, naquela mesma ordem, aos produtores de bovinos confinados.

Ao fazer a análise no período de 2019 observou-se que na atividade produtiva de confinamento foi quando houve os maiores aumentos dos indicadores de custos e, inclusive, acima do IGP-DI. Assim, apenas em 2019 o ICBC real (descontado do efeito da inflação) foi de 5,3%, 3,4% e 14,8% para CSPm, CSPg e CGO, respectivamente.

Outro aspecto interessante revelado pelos dados do Gráfico 1 foram quanto a variabilidade dos indicadores, que foram representados pelo desvio padrão (DP). O DP foi de 8,6, 8,9 e 10,9 para CSPm, CSPg e CGO, respectivamente, enquanto para aquele da inflação (IGP-DI) foi de 5,2, durante todo o período analisado. Há maior variabilidade dos indicadores pecuários frente ao indicador de custo de vida da população e isso pode dificultar ainda mais a gestão de custos aos confinadores.

Os custos totais (CT) das propriedades estudadas foram corrigidos do efeito da inflação conforme o IGP-DI e encontram-se no Gráfico 2, abaixo.

O Gráfico 2 indicou que os CT nas três propriedades analisas foram equivalentes em abril de 2017 e setembro de 2019, ou seja, os custos naqueles dois meses tinham sido similares ao se desconsiderar o efeito da inflação. No entanto, a partir de outubro de 2019 os CT de bovinos confinados por arroba aumentaram de forma que em dezembro de 2019 foram de R$ 197,58, R$ 188,64 e R$ 197,58 para CSPm, CSPg e CGO, respectivamente.

No período analisado, abril de 2017 a dezembro de 2019, os confinadores arcaram com aumento real do CT por arroba de em média R$ 26,00 para aqueles localizados em São Paulo e de R$ 46,00 em Goiás. Caso fosse analisado apenas o ano de 2019, os aumentos de CT não seriam tão diferentes daqueles analisados em todo o período.

Os insumos produtivos que mais colaboram para esses aumentos de custos foram o animal de reposição – o boi magro de 360 quilos – e os insumos alimentares. Em termos reais, descontado o efeito da inflação, entre abril de 2017 a dezembro de 2019 o boi magro aumentou 27% e 39,9% em SP e GO, respectivamente, e em relação aos custos das dietas alimentares os aumentos foram de 6,8%, 7,8% e 28,2% para CSPm, CSPg e CGO, respectivamente, naquele mesmo período.

Por fim, verificou-se que os itens de custos, de modo geral, aumentaram mais para o Estado de Goiás do que em São Paulo. Os itens que mais impactaram para esses aumentos foram a aquisição de animais para reposição e a composição da dieta alimentar. Os CT aumentaram mais do que a inflação, o que sugere que o produtor teve aumentos reais nos seus custos. Outrossim, verificou-se maior variabilidade dos indicadores pecuários (ICBC) quando comparados ao IGP-DI.

Conclui-se que com o aumento dos CT e a maior variabilidade dos indicadores deixam mais evidentes que a adoção de estratégias de gestão que auxiliem os confinadores em suas atividades torna-se mais necessárias para obter maiores margens de lucros.

Referências:

ABIEC, 2019. Perfil da pecuária no Brasil, BeefREPORT.

FAO, 2019. FAO – Food and agriculture data [WWW Document]. Database – FAOSTAT. URL http://www.fao.org/faostat/en/#data (accessed 10.10.19).

Deixe sua resposta

Fique por dentro das novidades!