Pasto ou Confinamento – Quais os desafios?

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Engordar bovinos a pasto ou em confinamento tem suas peculiaridades, mas será que os desafios são parecidos?

Cada sistema produtivo tem suas peculiaridades, mas, seja a pasto ou em confinamento, a estratégia adotada na fase de engorda dos animais é que define o sucesso da operação na fazenda. Falaremos aqui como os desafios com nutrição, sanidade, ambiência, manejo e estratégia fazem parte da lida diária com o bovino no pasto e no confinamento.

Mas o que define cada tipo de sistema produtivo?

No pasto, a produção de bovinos pode ser desenvolvida em todas as etapas da produção, ou seja, cria, recria e engorda. A criação de bovinos de corte a pasto representa a atividade produtiva típica nacional, pois o país possui grandes áreas de capim à disposição para o consumo dos animais, além de oferta de água e terras, sendo que, nesse tipo de criação, a base da alimentação dos animais é o capim e estes podem ou não receber suplementação mineral ou estratégica em cochos distribuídos no pasto.

Apesar da força da criação a pasto no Brasil, técnicas de terminação confinada vêm crescendo no território. Atualmente, vemos confinamentos por todo o país, principalmente, nos estados de Goiás, Mato Grosso e São Paulo. De maneira geral, no Brasil, as áreas de pastagem são mais comuns em regiões menos urbanizadas. Novas fronteiras agrícolas, como na região Norte (estados como Pará, Maranhão, Piauí e Tocantins) e outras mais tradicionais na produção bovina a pasto, como no Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) detêm a maior parte das áreas de pastagem.

O ambiente e método de criação caracterizam as principais diferenças entre os sistemas: o confinamento se difere da criação a pasto por manter os animais confinados, ou seja, em estruturas cercadas chamadas de “baias” ou “currais”. Neste local, o animal não se alimenta de capim como no pasto, mas de outras fontes de fibras, como o bagaço de cana de açúcar, polpa cítrica, silagem, entre outros, junto a um mix de ingredientes balanceados, na forma de ração, comprada de empresas de nutrição ou preparadas na fazenda.

O tempo da fase de engorda também varia entre os sistemas. Enquanto no pasto os animais podem ficar vários meses, no confinamento, sistema mais padronizado e controlado, com fornecimento de nutrientes ideais para a engorda, com foco no acabamento e ganho de peso num espaço de tempo menor, um ciclo de engorda médio dura cerca de 110 dias.

A maior aplicação da técnica de terminação em confinamento verificada nos últimos anos se deve principalmente à diminuição do tempo de engorda dos animais, aumentando o “giro” do rebanho, o que pode trazer altos ganhos à rentabilidade do negócio, mesmo impondo custos mais elevados para o pecuarista, já que implica em maiores investimentos. Este sistema permite, ainda, que se obtenham animais terminados no período de entressafra em que a oferta diminui e os preços ficam maiores.

Mas quais são os principais desafios em cada sistema?

Considerando que o animal “é o que come”, a nutrição é extremamente relevante em ambos os sistemas e é uma das principais diferenças em cada um deles. No pasto, a qualidade e cultivar da forrageira empregada na alimentação consistem no primeiro passo para uma boa produção, afinal é a base da dieta dos animais. Para que cresça de maneira vigorosa, palatável aos bocados do animal e que garanta sua boa nutrição, o pecuarista precisa ser também um bom agricultor! Isso porque precisa se preocupar com a adubação do solo, a reforma do pasto, clima, tipo de capim utilizado, entre vários outros aspectos fisiológicos da planta. Tudo isso para garantir que o animal tenha a melhor performance.

Para elevar o potencial do animal, a suplementação mineral também é uma importante estratégia ao pecuarista neste sistema de produção. A importância desta prática se deve ao fato de os minerais terem várias funções no organismo e participarem diretamente do crescimento animal, além disso, ajudam a melhorar o sistema imunológico, deixando o gado mais resistente (EMBRAPA). A oferta de pastagens de qualidade, extremamente sensível às questões climáticas, acaba sendo um grande desafio nas épocas de seca, em que a forragem é escassa e o desempenho dos animais pode ser impactado. Neste quesito, o confinamento pode ser, inclusive, uma boa estratégia nas épocas de estiagem!

No confinamento, a nutrição continua sendo chave para o sucesso, mas aqui a fonte de forragem vem misturada em um mix de ingredientes balanceados, na forma de ração, específica para cada fase do animal confinado, maximizando seu potencial de ganho de peso e deposição de gordura. Garantir o abastecimento do alto volume de insumos necessários para “bater” a ração dos animais na fazenda é um grande desafio, que envolve riscos de volatilidade de preços, questões de abastecimento, logística e qualidade no armazenamento.

Falando de ambiência, muitos podem se preocupar com as condições dos animais engordados em confinamento, pelo fato de estarem restritos nas baias. No entanto, o comportamento animal e bem-estar devem ser preservados, para dar acesso aos seus hábitos naturais, como movimentação, ruminação, qualidade da água, espaço suficiente, sodomia (efeito de dominância natural nos rebanhos), entre outros. Ambiência de fato é um desafio no confinamento, mas a aplicação correta garante segurança e bons resultados!

Já no pasto, os animais têm, mais naturalmente, estas condições, desde que estejam protegidos de predadores naturais, com exposição controlada a plantas nativas que podem ser nocivas, como as daninhas, por exemplo. Ainda no pasto, as grandes áreas podem dificultar o acesso à água, então essa deve ser uma preocupação no planejamento neste sistema. Em ambas as condições de criação, o manejo bem realizado é importante, para minimizar o estresse e também garantir boas condições do pasto e da saúde dos animais.

Apesar de maiores chances de estresse dos animais no confinamento, o ambiente controlado permite maiores cuidados com sanidade. Os animais passam por rondas sanitárias por equipes da fazenda com mais frequência, sendo constantemente checados quanto a possíveis doenças e condições atípicas, como problemas de casco, infestações de carrapatos e moscas, por exemplo.

No pasto, essas checagens demandam mais tempo dada a área e acesso aos animais. A atenção à temperatura em algumas regiões do país deve ser constante nos confinamentos, já que os animais podem passar momentos de frio, calor ou exposição intensa à poeira, já que as baias são nuas, sem cobertura vegetal, como nos pastos. Muitos confinamentos usam aspersores de água nos momentos mais secos e quentes do dia, para evitar quadros de doenças respiratórias nos animais. A água e uso de dietas adequadas também ajudam a minimizar os efeitos térmicos do animal, usando da própria fisiologia em seu favor.

Financeiramente, ambos os sistemas exigem bastante planejamento para serem bem executados. No entanto, neste quesito, o confinamento demanda mais capital de giro (recursos para manter a operação em funcionamento), já que a alimentação dos animais é baseada na compra de insumos e ração, alguns com alto valor agregado dados os tipos de ingredientes utilizados. Além disso, a manutenção de cercas, diesel dos tratores e vagões forrageiros (máquinas que distribuem o “trato”, ou ração), manutenção de ruas, ou “linhas” de confinamento, cochos, bebedouros, energia elétrica, depreciação de máquinas, implementos, equipamentos e estrutura civil, entre outros itens, acabam acumulando um montante elevado a ser movimentado na operação, frente ao sistema de pastejo.

Enfim, qual sistema é melhor?

Agora você deve estar se perguntando: “afinal, qual a melhor opção?” A resposta é: não tem um sistema melhor que outro. Quando comparamos os métodos de engorda de bovinos, precisamos considerar que existem diferentes estratégias e elas sim definem o que é mais adequado à situação de cada fazenda.

Vimos aqui que os desafios existem em ambos os sistemas, mas a chave para uma boa pecuária, seja qual for a modalidade escolhida, é a ESTRATÉGIA, considerando, principalmente, os seguintes  aspectos-chave: nutrição, sanidade, ambiência e manejo. Cada um deles se desdobra em várias condições a serem seguidas para que os animais tenham um bom desempenho produtivo e todas são fruto de uma estratégia mais interessante a cada realidade de produção.

Fica ligado nos nossos próximos artigos, abordaremos mais questões sobre esse tema!

Coautor

Marcos Iguma

Referências

BEEFPOINT. Comparação entre a engorda a pasto e confinamento. 2004. Disponível em: < https://www.beefpoint.com.br/comparacao-entre-engorda-a-pasto-e-confinamento-21318/>

EMBRAPA GADO DE CORTE Suplementação mineral racional. Campo Grande, MS, 15 set.1995 nº 13. Disponível em: < http://old.cnpgc.embrapa .br/publicacoes/divulga/GCD13.html>

SOUZA, C. B. N. A bovinocultura de corte do estado do Mato Grosso do Sul. Instituto de Economia – Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Campinas, 2010. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285957/1/ Souza_CarolinaBarbosaMarquesde_M.pdf >

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