Murilo Garret
- junho 20, 2019
- , 1:29 pm
- , Confinamento
Por que o lote homogêneo aumenta a lucratividade no confinamento?
No Brasil, o confinamento é a fase da produção que imediatamente antecede o abate do animal, ou seja, envolve o acabamento da carcaça que será comercializada. A qualidade do produto (bovino) produzido no confinamento é assim dependente das outras fases da produção. E, como o ramo da pecuária é um dos mais importantes do agronegócio brasileiro, a cada dia novas técnicas e ferramentas de manejo são testadas para aumentar a produtividade, lucratividade e a qualidade dos produtos.
Os produtores investem na produção e o sistema de confinamento vem crescendo no Brasil. Do total de animais abatidos no Brasil, cerca de 12,6% são provenientes de confinamentos. Em um estudo realizado pela ABIEC, a Associação Brasileira das indústrias Exportadoras de Carnes Bovinas, no ano de 2018 foi registrado um crescimento de 6,9% no número de abates, que chegou a 44,23 milhões de cabeças no país.
Para o sucesso do confinamento, não há receita exata, porque há diversos fatores influenciadores. De toda forma, o confinamento exige mão-de-obra qualificada e atenção redobrada para aproveitar todo seu potencial. O produtor deve levar em consideração vários fatores, pois trata-se de uma prática que requer gestão e técnica. Na hora de analisar a viabilidade de sua implantação, deve-se considerar, por exemplo, a formação de lotes homogêneos.
Mas por que a formação de lotes homogêneos é importante?
Na formação dos lotes, a palavra-chave é homogeneidade. De acordo com a EMBRAPA (2014), animais do mesmo sexo, com pesos próximos, de tamanho semelhante e com grau de terminação semelhante formam o lote ideal. A primeira vantagem do lote homogêneo é que a competição por recursos (acesso ao cocho, por exemplo) é mais equilibrada, o que garante menos problemas de comportamento relacionados às disputas por estes. Em segundo lugar, e ainda mais importante, é que eles tendem a estar prontos para o abate em datas próximas, o que permite vender o lote em menos vendas isoladas. Idealmente, a venda de todo lote é a melhor escolha, pois, a cada venda picada, os animais remanescentes brigam entre si para estabelecer uma nova hierarquia, o que, obviamente, atrapalha o desempenho de todo lote.
Através da formação de lotes pode-se alcançar melhores resultados econômicos também. Esta heterogeneidade pode ocorrer tanto pelo diferencial de peso vivo, como pelo nível de acabamento de carcaça apresentado no momento de entrada no confinamento. A formação de lotes heterogêneos forçará um maior número de conduções do lote para o curral, a fim de se promover apartações de animais prontos para o embarque, ocasionando estresse desnecessário aos animais que retornarão para o trato novamente.
É importante ressaltar que quanto menor for o estresse sofrido pelo animal durante o confinamento, melhor será o seu desempenho em ganho de peso ao longo do mesmo. Além disso, com a formação de lotes heterogêneos, a exigência de nutrientes dos animais poderá ser sub e superestimadas no momento da formulação da ração, onde a dieta é formulada a partir da média de peso dos animais.
Em uma simulação computacional desenvolvida por Smith et. al (1998), observaram que quanto maior a variação de peso e o escore corporal (ECC) dentro de um lote menor será a lucratividade acumulada daquele lote.
O aumento da variação de peso entre os animais reduz a lucratividade. O lucro médio do lote respectivamente para novilhos com variação de 18,2 a 72,6 kg foi em torno de R$179,40 a R$39,00 (na cotação atual do dólar de R$3,90), respectivamente
A redução do lucro deve-se principalmente a uma redução no valor de carcaça, uma vez que é afetado pela penalidade de pesos indesejados na carcaça, qualidade e falta de padronização. O valor da carcaça se manteve fixo até variar o peso em 18,2 kg por animal, e diminuiu acentuadamente quando a variação passou de 36,4 kg.
O lucro não é apenas reduzido com maior variação no peso, mas também é maximizado com menos dias de confinamento. Para maximizar o potencial de lucratividade do animal e comercializar carcaças padronizadas, a variação no peso corporal inicial deve ser minimizada. Caso um lote tenha uma grande variação de peso inicial no confinamento, é economicamente vantajoso abater no POA antes do lote de animais com menor variação de peso. O Aumento da variação na condição corporal diminuiu o retorno líquido médio, embora não na mesma magnitude da variação de peso na formação do lote. A variação do ECC entre 0,6 a 2,4 em um escore 1 a 5, o lucro líquido pode aumentar em R$33,75 (R$181,01 e R$147,26).
A Inteligência Artificial (IA) fez progressos substanciais na pecuária em 2018. Se você não acredita em mim, olhe ao seu redor e observe como o BeefTrader e o BeefTrader Premium aumentam a lucratividade do sistema de produção. O crescimento da IA nos últimos anos é principalmente em função da utilização no POA, aumentando a lucratividade, identificação do boi ladrão, dentre outros. Sendo assim, o desenvolvimento de um sistema de IA baseado em redes neurais para conseguir classificar animais homogêneos para a formação de lotes, em função do peso, ECC e frame poderia ser um excelente benefício, sendo possível obter mais lucro sobre a terminação dos animais, além de produzir carcaças padronizadas, tornando o sistema de produção mais sustentável.
Autor: Murilo Garret | Edição: Gabriela Estevam
Referências:
ABIEC, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. BeefReport: Perfil da pecuária no Brasil. Disponível em: http://www.abiec.com.br. Acessado em: 3 Jun 2019.
EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. É época de confinamento. 2014. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/1963460/e-epoca-de-confinamento>. Acessado em: 7 jun. 2019.
SMITH, M.T.; OLTJEN, J.W.; AND GILL, D.R. Simulation of the economic effect of variability within a pen of feedlot steers. Oklahoma Agricultural Experiment Station. Animal Science Research Report, p. 155-160, 1998.